No episódio #025
Rachel Lima lê Rachel Swirsky
No episódio de nº 025 Rachel Lima lê "Se eu fosse um dinossauro" de Rachel Swirsky
Rachel Lima e Silva nasceu na capital de São Paulo em 1996 e criou-se no interior paulista, Registro, cidade do Vale Ribeira (ou mais conhecido como o vale das bananas). Hoje mora em Florianópolis e faz faculdade de bacharelado em Artes Visuais na Udesc. Como estudante e artista em download, explora o texto como trabalho artístico e caminha por meios intermidiáticos, como a vídeo-performance, desenhos, notas-fotográficas e os vocabulários do corpo a partir da dança.
> Quando a minha amiga Gabi leu este texto para mim, fiquei fascinada pela sua potência imagética. A história te conduz para um imaginário imprevisível, uma narrativa breve, intensa e instigante. Interpreto nesse ser, que poderia ser um dinossauro, as vulnerabilidades impostas à população LGBTI. O Brasil é um dos países que mais assassina transsexuais e travestis, também é um dos que mais violentam lésbicas, gays, bissexuais e desde as eleições no Brasil, este terror só tem piorado. Não faz sentido que uma patética convenção heternormativa classifique quais corpos são dignos de humanização, a liberdade de existência é castrada e relações de afeto são punidas por não se encaixarem ao padrão imposto. Mas se eu, se você , se elxs fossem dinossauros “Eu confiaria em seus dentes e garras para manter você / eu / nós seguros agora”.
"Se você fosse um dinossauro, meu amor, então você seria um T-Rex. Você seria pequeno, apenas cinco pés e dez polegadas, a mesma altura que você, humano. Você teria ossos frágeis e andaria com um andar tão delicado e educado quanto você conseguiria com garras enormes. Seus olhos olhariam gentilmente por baixo de sua sobrancelha óssea.
Se você fosse um T-Rex, então eu me tornaria um tratador de zoológico para que eu pudesse passar todo o meu tempo com você. Eu lhe traria galinhas cruas e cabras vivas. Eu observaria o sangue brilhando em seus dentes. Eu faria minha cama no chão da sua gaiola, na terra úmida, almofadada por folhas. Quando você não conseguisse dormir, eu cantaria canções de ninar para você.
Se eu cantasse canções de ninar para você, logo perceberia o quão rápido você pegava música. Você harmonizaria comigo, sua voz áspera e vibrante um estranho contraponto à minha. Quando você pensava que eu estava dormindo, você chorava canções de amor não correspondido noite adentro.
Se você cantasse canções de amor não correspondido, eu te levaria em turnê. Nós iríamos para a Broadway. Você ficaria no palco, garras cravadas no assoalho. O público choraria com a beleza melancólica do seu canto."
O texto “Se eu fosse um dinossauro” é de Rachel Swirsky, foi publicado em 2013 pela revista Apex Magazine e vencedor no prêmio Nebula em 2013 . A tradução do texto para português foi realizada pela mestranda em Artes Visuais Gabriela Hermenegildo. Fonte: www.apex-magazine.com/interview-with…achel-swirsky/ --
VER.SAR é um podcast com artistas convidadas a compartilhar leituras de textos sobre práticas artísticas, maternidades e feminismos. Este Podcast é uma plataforma de comunicação colaborativa que reúne mulheres artistas e seus referenciais textuais, a partir do exercício da leitura e busca criar um arquivo de consulta e compartilhamento gratuito deste conteúdo.
Curadoria: Priscila Costa Oliveira
Apresentação: Priscila Costa Oliveira e Maria Flor
Convidada: Rachel Lima
03 de agosto de 2019