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No episódio de nº 032 Lúcia Rosa lê Vinte menos um poemas sobre a mulher Valderez Nepomuceno

Lúcia Rosa é formada em letras FFLCH_SP, tradutora e artista plástica. Iniciou o Dulcinéia Catadora em 2007, coletivo que reúne artistas, escritores e jovens filhos de catadores ou em situação de vulnerabilidade. Funcionando intensamente há nove anos, o grupo editou mais de 100 títulos, vendeu aproximadamente 10000 livros, executou oficinas em várias cidades do estado de São Paulo e também em Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife. Oficinas nos EUA (2009) e em Moçambique (2012). Participou da Mostra SESC de Artes, Circulações, 2007 e Circuito Sesc de Artes, 2015, AQUI, ocupação Dulcinéia Catadora no SESC Pompéia, 2018. Participação das principais feiras de vendas independentes no Brasil (Tijuana-SP, Pão de Forma - RJ e Plana - SP e SESC Pompéia). Participou de O Abrigo e o Terreno, mostra inaugural do MAR (2013) e do Valongo à Favela (2014-2015) Museu de Arte do Rio; Livro de Artista no Brasil, Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães; Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa MG (2015); Tendências do Livro de Artista no Brasil: 30 anos depois, CCSP (2015-2016); Arte de Contar Histórias em MAC Niterói, RJ (2016); Cartoneras: Releituras Latino-americanas, Casa do Povo, SP (2018).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Descrição do Episódio:

De poeta para poeta, o início de tudo. De nada me adianta vasculhar fotografias e vídeos.

Não me vejo no que dizem ser a minha pessoa, só me reconheço na máscara.

Não são meus olhos em grande angular, nem o corpo leve como o vento da menina que corre em direção à câmera.

Se houvesse registro dos pensamentos.

 

Desde criança quis ser escritora, escondi tudo em um arquivo morto e morri.

Acho que me reinventei. A insônia sempre me tratou, então comecei a rever vídeos e fotografias.

 

Devolvi tudo ao porão e permaneci no escuro.

Sempre trago no armário do sonho alguns delírios.

Minha estação de trabalho é uma pequena biblioteca.

Eu de calcinha. Diante de mim, uma folha de papel em branco e uma Olivetti Lettera 82.

E o som? Acasalamento.

Escrever tem muito de namorar as palavras.

Acasalamento.

Casar é renunciar ao hímen, entregando-se a três letras enrijecidas e famintas.

Casar é fechar-se no medo e calar palavras.

Casar é abrir a vulva e deixar-se à mercê das paredes.

Casar é como declamar o não-poema, que se esvai em sangue e quando o velho fala coisas desconexas e sem sentido.

Sexo. Sexo. Olhava o esperma sair dentro de mim e pensava nos filhos que não tive e nos que tirei, sem que o homem ouvisse um só gemido.

 

Cozinha.

Foi na cozinha que fiz o verdadeiro sexo com o homem, que jurei ficar ao lado a vida toda. Foi uma torta de morangos silvestres, receita da minha avó.

Ver sua boca mastigando os frutos, a língua lambendo os lábios suculentos, me fez gozar. Depois disso, que me lembre, nunca mais. Prazer.

Não vou mentir como fazem os poetas. Pra quê? A vida não é nada poética e ela ensina que o ódio cria carências. Assim foi que conheci o homem mais completo de minha vida.

Vivemos três belos dias e ele se foi como uma ave migratória. Desejos. Não, não posso falar que nunca desejei mulheres.

Até que tive uma. Mas o cheiro do homem sempre foi o que mais me atraiu. Pena ter demorado tanto, acreditando que um juramento bastava.

Rasguei e joguei a Bíblia no lixo.

 

Esses poemas fazem parte do livro 20-1 Poemas sobre a Mulher, de Valderês Nepomuceno, uma das colaboradoras de Dulcinea Catadora. O texto foi publicado em 2014, possui quatro títulos, dois de poesia, um infantil e um livro de artista.

 


VER.SAR é um podcast com artistas convidadas a compartilhar leituras de textos sobre práticas artísticas, maternidades e feminismos.
Este Podcast é uma plataforma de comunicação colaborativa que reúne mulheres artistas e seus referenciais textuais, a partir do exercício da leitura e busca criar um arquivo de consulta e compartilhamento gratuito de conteúdo relacionado às questões estruturais e conceituais implicadas em ser mulher na contemporaneidade. As artistas convidadas são mulheres que investigam e discutem os conflitos políticos da vida doméstica e pública produzindo pensamento crítico em nosso contexto e propondo mudanças significativas no mundo da arte.


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Curadoria: Priscila Costa Oliveira

Apresentação: Maria Flor e Priscila Costa Oliveira

Convidada: Lúcia Rosa

08 de março de 2020

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