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No episódio Nº 066 Chrystalleni Loizidou e Lívia Moura falam sobre infantofobia
Um dialogo Brasil-Chipre para Revista Mesa: MANTENHA AS CRIANÇAS NA SALA

No episódio Nº 066 Chrystalleni Loizidou e Lívia Moura falam sobre infantofobia

 

Um dialogo Brasil-Chipre para Revista Mesa

MANTENHA AS CRIANÇAS NA SALA

 

 

DESCRIÇÃO/TRADUÇÃO DO EPISÓDIO:

 

Email 1:  Infantofobia e Aphrodite

Chrystalleni Loizidou, 26 de abril de 2020,  5º lunação

Ele está dormindo! Isso significa que tenho alguns minutos para escrever para você. Eu te envio amor, amor selvagem, e para o seu aniversário eu te envio o cheiro do mar com um pouco de espuma salgada do mar mediterrâneo. E eu me dou a tarefa de articular como nossas conversas e instintos compartilhados permanecem no centro da minha experiência, mesmo depois de quase um ano, e especialmente durante o isolamento covid-19.

Escrevo isso com a intenção de conseguir nomear algo ritualisticamente, para que possa me livrar dele, porque eu tenho estado com raiva e entristecida pelo isolamento e os absurdos gerados por ele, que são tão contrários às revelações que tive durante o tempo que passei com você. Eu sinto que você é uma das poucas pessoas que irá entender, tanto no sentido vivido quanto teórico. Nossas biopolíticas dessas condições, acredito, estão alinhadas, e se já não tivéssemos muitos títulos para o nosso trabalho juntas (Ixodos: O conhecimento que recebemos através da nossa vagina: Escrevendo com a ponta esferográfica do clitóris: Por que a infantofobia é importante para manter o sistema? Eu sugeriria adicionar algo como ‘sobre a biopolítica da maternidade e maternidade solteira durante o Covid-19’).

Vem à minha mente a imagem de você meditando ao lado da pedra Afrodite, tendo sido proibida de tocá-la pelo guarda do Templo Afrodite Kouklia, dois anos atrás. Estou pensando no meu senso de urgência, naquela ocasião, nós tínhamos que encontrar uma maneira para você tocá-la, porque era importante, normal, e até mesmo esperado que os visitantes tocassem na pedra até recentemente. Mas dessa vez a atitude do guarda sugeriu que logo se tornaria mais difícil para as pessoas realizarem essa comunhão básica e simples. Que a pedra pode em breve ser cercada por câmeras ou colocada em vidro, ainda mais “museificada”, removida da função, “protegida”, seu poder cerimonial e potencial de conectividade neutralizado, removida do fluxo.

Eu busco te alcançar, em sua sabedoria de estado meditativo, para processar algo: foi uma revelação para mim, a conexão entre (a) a proibição de tocar (e mais tarde a proibição de dançar), e (b) a loucura do covid-19 e a direção em massa para a securitização e higienização contra o sentido de ritual, contra a resposta espontânea e visceralmente criativa ao lugar – a marginalização de nossos instintos lúdicos, nossa exuberância, nossa magia. Um amigo antropólogo fez uma conexão entre o que eu disse a ele sobre o trabalho que realizamos juntas, e a definição de Mary Douglas,  “matéria fora do lugar”.2 Estávamos em uma cafeteria e ele ilustrou seu ponto de vista pegando um pouco da terra de um vaso de planta, que estava próximo a gente, e jogou-a sobre a mesa. Foi perturbador, e eu acho que essa perturbação é o que você estava falando: você falou sobre crianças durante uma palestra acadêmica ou uma discussão política, sobre nossas tentativas ansiosas de impedí-las de tocar naturalmente as coisas em um museu, de comer areia, espirrar em todos os lugares, abraçar todos, oferecer uma mordida de sua maçã, meio comida, para um novo amigo.  

Aqui está a pergunta que eu gostaria que me ajudasse: É apenas a minha experiência, ou o ditame do covid-19 para o ‘distânciamento social’ (entre todos, em vez de aqueles que a escolhem ou precisam) é um exemplo de infantofóbia? Uma diretiva paradoxal que marginaliza e oprime as crianças e todos aqueles que são incapazes de segui-la? Não são essas medidas que priorizam o medo da morte sobre o apoio da comunidade, e descartam totalmente a espiritualidade, nos distanciando uns dos outros, da nossa natureza, e da própria natureza, produtos psicossupressores de um sistema infantofóbico?

Em Kouklia, ao lado da pedra, eu admirava sua transcendência casual do que para mim era a terrível e arruinada influência do capitalismo de vigilância, vi você vibrar ao lado da pedra e vi seu poder tornar irrelevante todo um conjunto de condições políticas assustadoras.

Desejo a você um toque ardente no seu aniversário, cheio de inspiração extasiante e fluxos contaminantes e libertadores.

Email 2: A infância e a maternagem irão nos guiar

Livia Moura, 1 Maio, 5a lunação de 2020

Chrys, sim! Nós precisamos de muitos fluxos contaminantes libertadores! Obrigada!!!

Imagino que o contágio no Chipre esteja sendo mais tranquilo. Aqui no Rio, por motivos sociais, políticos e sanitários, está se desdobrando de maneira muito trágica… o isolamento e a higiene se fazem muito necessários, pelo menos como medida emergencial.

Amo tanto vc e Janus! Que saudade. Perdoe-me pela demora em responder. Às vezes me sinto frustrada por estar exausta e não conseguir tempo para meus projetos. Fisicamente não está sendo fácil, estou submersa nos trabalhos domésticos, cuidando 24 horas sozinha das crianças e ao mesmo tempo minha mente está fervilhando com tantas reflexões profundas e potentes sobre tudo isso.

O futuro chegou! Chegou a hora de fazer acontecer o que a gente pensava e ensaiava juntas em relação ao futuro. Todos temos um artistas dentro de si que precisa ocupar outros espaços, para além dos museus, dos livros e os palcos! Sinto uma forte pulsão para redesenhar a paisagem real, ser mais coerente com o que acredito e colocar isso em prática. Estou nesse momento montando um site para literalmente vender ações virtuosas numa bolsa de valores éticos. Esse era o projeto inicial da VAV [VAV é a sigla de Vendo Ações Virtuosas, uma plataforma de arte contemporânea co-criada por Lívia Moura em 2013 (site: www.vendoacoesvirtuosas.art). A VAV atua nas transbordas entre pedagogia, economia e engajamento social tendo a arte como instrumento de síntese. Dentre suas principais ações estão: intervenções urbanas, projetos pedagógicos, exposições, publicações e atualmente uma plataforma complementar econômica virtual, o Banco do Afeto: www.bancodoafeto.art] e só agora, 7 anos depois, está realmente se concretizando. A crise pandêmica me traz a urgência de encarnar essas ideias e tirar elas de um plano metafórico.

Me pergunto o que foi que nos conectou tão profundamente desde que nos conhecemos na exposição “Águas e vidas escondidas” no MAC em 2016. E sinto que tem absolutamente tudo a ver com o que provocou essa crise do covid-19.

O que nos une é essa vontade de beber da fonte ancestral: a busca por resgatar histórias, conhecimentos, rituais e modos de vida que foram escondidos pela dinâmica predatória de sociedades dominadoras e opressivas. Essa vontade de resgatar dentro de nós a ancestralidade, a nossa raíz que liberta nossos galhos, folhas e frutos (não por acaso, frutos proibidos). Beber da fonte de sabedoria ancestral presente nos povos originários da América Latina, nas culturas de origem africana e asiática, mas também da antiga Europa e Oriente Médio. Sobretudo aquela sabedoria pré-patriarcal, que deixou marcas tão profundas no seu território. Fiquei fascinada durante a nossa residência peregrina pela Grécia3, em como essa sabedoria sobrevive no imaginário popular de mulheres sábias. Mas eu também acredito que precisamos acessar a sabedoria mineral, vegetal, a sabedoria das àguas. E con-siderar, pensar com as estrelas.

Beber dessas fontes ativa a verdade que habita nas células do nosso próprio corpo. É um resgate para que a gente possa acessar a nossa própria verdade, a fonte de sabedoria imemorial que habita em cada um de nós. Por mais que os sítios arqueológicos estejam literalmente arruinados e hiper controlados pelas vigilâncias museológicas, Gaia e Afrodite são mais poderosas que eles.

Essas histórias que escutamos (e atravessamos) em potentes encontros pela Grécia e Chipre (2018), permanecem vivas em meus poros. Ainda consigo acessar a sensação dos meus corpos se abrindo nos antigos templos onde as deusas pré-patriarcais guiavam rituais de premonição, sexualidade sagrada e comunhão.

Confesso que os relatos sobre as “prostitutas sagradas” me chocaram bastante. É uma quebra total de paradigma saber que elas tinham a função de abrir a mente dos filósofos através dos estudos, das artes e da sexualidade. E que ainda por cima ocupavam um dos lugares mais altos na hierarquia religiosa e social, podendo até se casar, desde que continuassem a exercer a sua função.4 Como dizia a Carol Cortes: “juntando o útil com o formidável!” kkkkkk. Dois anos depois, ainda estou colhendo frutos e irei demorar muito para conseguir colocar em prática todas essas experiências de abertura mental e espiritual…

Você me pergunta se as medidas de isolamento não são uma expressão dessa sociedade infantofóbica. Acho que na real essa crise é a consequência de uma sociedade infantofóbica. Quando eu falei com você de “infantofobia” era mais no sentido de uma biopolítica do que uma necropolítica. O fato de não vivermos mais em comunidade (e isso é algo relativamente recente na história da humanidade) faz com que muitas pessoas nunca tenham convivido na vida com crianças. E isso gera medo e aversão irracional com a presença e o descontrole que gera uma criança sendo criança. Sobretudo porque o design das casas e de todos os ambientes de uma cidade ocidentalizada contemporânea favorecem a inadequação da criança. Outra coisa que cria uma “aversão” irracional às crianças é o fato do adulto não ter podido viver a sua própria infância no sentido amplo. Tendo a sua criança interna reprimida, é comum não tolerar a presença de crianças que se expressam plenamente como crianças: fazendo bagunça, gritando ou chorando. Essa estrutura da família burguesa, pai, mãe e filhos numa casa, separa as crianças do convívio cotidiano com outros parentes (sem contar com as mães solteiras). Antigamente todo mundo convivia com um sobrinho pequeno ou um primo e, de alguma maneira, sabia conviver com crianças. Mas a palavra infantofobia não tem sido usada, inclusive por nós, somente nesse sentido. Mas sim num sentido mais amplo onde a maternagem se torna um estorvo social, que atrapalha a hiperprodutividade do sistema capitalista. Pois é conveniente para o sistema nos manter submissas e em situação de precariedade. É conveniente que a gente acredite que somos inúteis e sub-produtivas quando na verdade estamos oferecendo trabalho gratuito crucial para manter o sistema: criando os futuros trabalhadores do sistema.

O isolamento exacerba tudo isso, mas é algo que poderá também ser usado como uma chave para uma inflexão.

Eu acredito que o sentido de infância e de maternidade irão nos guiar na saída dessa crise. As soluções virão das pessoas que estão na base da pirâmide, das que estão vivendo sob pressão, de nós mães e de todas as pessoas que exercitam a maternagem em relação ao planeta. O sentido de infância com sua criatividade, ruptura dos padrões e a naturalidade em se misturar com areia, pedras, plantas e animais (por todos os buracos do corpo) são a chave para reencontrar nossa estrada como humanidade.

A infantofobia é necessária para a manutenção do capitalismo. Num mundo convivial – como dos indígenas aqui no Brasil e das antigas sociedades matrifocais no Chipre – crianças e idosos não são um problema, eles são nossa fonte de sabedoria, sustento e alegria. Nós, mães solteiras, estamos vivendo momentos pessoais extremamente difíceis por conta do isolamento. A maioria das atividades não fecharam, mas as escolas fecharam, afinal nós mães não fazemos mais do que nossa obrigação em ficar 24 horas trancadas com as crianças em casa. Mas como diz a Mariana Pimentel  – que se auto-denomina como uma “teórica- doméstica”5 – isso não é um problema pessoal nosso, é um problema político que o capitalismo impõe sobre nossos corpos.

Agora estou passando um curto período da quarentena na “A Casa Lar”, no Alto da Boa Vista, esse espaço de residência e comunidade organizado pela Carol Cortes, onde você esteve por alguns meses no ano passado com Janus. Esse lugar que já abrigou muitas reuniões da VAV, rituais com medicina sagrada indígena, de cura holística e tantos artistas fora da caixinha!

As minhas crianças estão soltas na mata enquanto tento terminar esse email. Passei 2 meses confinada com elas e minha mãe dentro de um apartamento: enlouquecedor. Sei que as mães solteiras estão numa situação mais frágil, mas a própria família burguesa (pai, mãe e filhos) também é uma estrutura que não favorece ninguém. Crianças precisam ser criadas por uma comunidade e não por 2 pessoas que as depositam na escola para passar o dia trabalhando fora de casa e voltar exaustas para trabalhar em casa.

Kito (meu filho mais novo) agora se esconde debaixo da mesa na expectativa que eu corra atrás dele na mata.

Vamos fazer um brownie agora.

Tenho tanto a trocar contigo sobre esse momento, sobre a economia, sobre o sistema cardíaco e sobre a circulação das nossas emoções.

Vamos nos falando!

Muita luz e amor sempre.

Lívia

Email 3: Infantobia e higiene

Chrystalleni, 8-21 de maio, 5ª lunação de 2020

Minha Livia,

Deixei minha imaginação correr com você na floresta. Imagino Jano escalando árvores grandes para alcançar seus pequenos enquanto pensamos juntos, compartilhamos as tarefas, organizamos e nos conectamos com outras mulheres ao redor do mundo, cultivando nossa compreensão e o alcance de nossas ideias. Volto ao nosso tempo na Casa Lar há um ano, e às nossas conversas.

Antes de começar a derramar meu coração, sugiro mantermos a proposta para a reunião on-line de sábado curta e doce:

Ixodos: Espalhando imunidade afetiva. (Mulheres na liderança de Iniciativas Artísticas) unidas em resistência. É hora de nos conectarmos e compartilharmos nossas experiências e intuições sobre o que fazer a seguir. Sábado, 23 de maio de 2020, 20:00 Chipre / 14:00 Rio de Janeiro / 19:00 Marselha

Sinto muito por ter demorado tanto para te responder. Seu e-mail me deu um nó no estômago. Para conseguir terminar de responder, tive que esquecer a raiva das coisas que me impediam de fazê-lo. As dificuldades que enfrentei para encontrar tempo e clareza para terminar este e-mail, se tornaram  símbolos de realizações difíceis em torno da minha posição como uma “mãe solteira”, e uma mãe solteira sob isolamento covid-19. Minha raiva foi direcionada contra tudo que me dificultava a manter nosso pacto de ajudar uns aos outros, de viver e criar nossos filhos com um código compartilhado de conexão, liberdade na natureza e clareza em suas emoções. Tenho estado sozinha, exausta, com medo, ressentida, e me recusando a aceitar os futuros explicitados pelas políticas globais de confinamento/isolamento, as dificuldades e condições ocultas que limitavam a mim e ao meu filho. Tudo isso dificultou a conexão com você, e realizar uma realidade tangível com o milagroso zeitgeist de nossos sentimentos e ideias. Foi uma luta para encontrá-la em um lugar de otimismo.

A noção de infantofobia que você me trouxe, há quase um ano, agora tem sido uma lente muito poderosa para mim, e uma ferramenta. Eu me pergunto se minha preocupação contínua com isso me afastou do que essa palavra significa para você. Eu acho que não, mas é um conceito tão difícil de definir. Você tem uma definição em algum lugar? Aqui está minha rápida tentativa: 

Infantofobia é medo ‘por’ crianças que se torna medo ‘de’ crianças. É a subestimação da sabedoria das crianças, sua bondade, sua conexão com a verdade, de suas habilidades, e a incrível profundidade de sua percepção. Uma subestimação que encontra extensões institucionais e a ascensão da política opressiva em vários aspectos da vida: na educação, “disciplina”, a subestimação de seus corpos e sistema imunológico que levou a um afastamento maciço do parto natural e substituiu a amamentação por uma enorme indústria de leite em pó;  e o delegar da infância a um mundo não natural de imagens e conceitos simplificados, cortados, comprometidos, imagens e conceitos desconectos, de brinquedos plásticos feitos para o “desenvolvimento ideal”,  também conhecido como aprendizado fechado em “ambientes seguros e limpos” e simulacros. É o medo da infância, o medo do que as crianças podem revelar. Especialmente se elas podem correr livres o quanto quiserem, ou precisam. Especialmente se elas provarem a terra e experimentarem uns aos outros mais cedo. São estruturas que dificultam a nossa presença, de sermos capazes de nos conectar, e estar atento às mensagens de nossos filhos, ou às nossas próprias intuições.

Nomear a infantofobia é perceber que estamos enfraquecendo nossos filhos. Estamos fazendo isso em nome da segurança, e isso contém o silenciamento, reprimindo a criança dentro de nós mesmos, nossa negação de instintos (como o fato de que as mulheres sabem como dar à luz), uma negação de nosso próprio conhecimento oculto, de nossa própria maravilha no mundo, de nossa própria “indigeneidade”, e um silenciamento do fato de que isso começa com nossa própria conexão com a natureza. Em geral, não escondemos nossos filhos de nossas “vidas reais”? Não continuamos gerando espaços e circunstâncias onde as crianças não podem estar? Não ensinamos a eles que o responsável é terminar a lição de casa e ignorar seu desejo de correr, subir ou rir, ficar encharcado na chuva, que tais desejos são ridículos, inapropriados e perigosos? Não parece, de acordo com uma abordagem fenomenológica da educação, digamos, que o propósito do nosso sistema educacional é produzir crianças que sejam capazes de ignorar seus desejos e instintos para ficarem no seu lugar e seguir ordens.

Não escondemos nossas conversas e decisões mais significativas de nossos filhos? “Não tirem as crianças da sala” você me disse isso e falou o nome de um líder indígena que pronunciou isso (eu me pergunto o que ele pensa sobre covid-19). Eu entendi que quando tomamos decisões escondidas de nossos filhos, isso de fato é contra seus interesses, decisões que são perigosas para eles (e para nós), coisas que não queremos expô-los. Portanto, escolher não tirar nossos filhos de uma sala significa não deixar que tais decisões sejam tomadas, significa permanecer responsável por eles e assim por si mesmo, e assim por todos nós: não tratá-los como criaturas menores, mas mostrar-lhes o verdadeiro respeito. Para mostrar o verdadeiro respeito à vida e à natureza.

Você diz que a higiene e o isolamento no Brasil são necessários e eu vejo isso como parte da resistência da inteligência brasileira à negação da gravidade do Covid-19. Algo que coloca muita gente em risco. Aqui é diferente: a normatividade neoliberal, plutocrática, hipocondríaca, capitalista “tomou medidas” de uma maneira melhor descrita como desumana, impossível, devastadora, em resposta à histeria orientada pelas mídias sociais, sem base na ciência e no consentimento democrático. Não há mais vastas florestas aqui, a terra está seca e esquecemos como viver por ela.  O que resta de nossa “indigeneidade”, coesão social e natureza não está ameaçado por uma doença, mas pela tomada totalitária de toda a vida, por prioridades médicas de mente estreita, e sua escolha de isolamento, esterilização/ consumo excessivo de máscaras, luvas e desinfetantes, e medo. O Estado aqui fez duas coisas imperdoáveis “antecipadamente”: em primeiro lugar, exigiu e impôs que as pessoas se separassem em menores grupos possíveis, em vez de se unirem em bolhas humanas e economicamente razoáveis. Isso os levou a temer e denunciar seus vizinhos, dizimar e proibir as redes de apoio social existentes, e em seguida instituiu disfuncionalmente a “ajuda” através das prefeituras e ONGs. Adotou uma atitude autoritária de desconfiança contra o “povo”, espalhando a devastação, tornando quase impossível ficar bem. Em segundo lugar, impôs medidas e usou a polícia de forma a afastar as pessoas da natureza, incentivando que as crianças fossem mantidas assustadoramente confinadas. Curiosamente, depois de algumas manifestações, os “donos” de cães foram autorizados a levar seus cães para passear quantas vezes “fossem necessárias” sem ter que pedir permissão via mensagem de texto. No entanto, tal exceção não foi dada àqueles que defendem a necessidade de levar as crianças para fora com mais frequência, ou se deslocar para ajudar os outros. Gosto de pensar que todos encontraram maneiras escondidas para encontrar a sanidade, comunidade e movimento saudável, mas a popularidade acrítica das hashtags #stayhome, o senso de depressão em massa, o número crescente de relatos de violência doméstica contam uma história diferente. Claramente, maneiras criativas de contornar o confinamento é uma questão de privilégio.

Vejo a concretização e a normalização das políticas e o surgimento de preconceitos e pressões sociais contra aqueles que não podem ou não se isolarão, não se esterilizarão e que escolheram para si ou para seus entes queridos uma vida que não é absolutamente definida pelo medo desse vírus.

O mundo está se dividindo entre aqueles que podem se isolar e aqueles que não podem.

Parece-me haver dois lados que ecoam em nossas conversas, por um lado aqueles que ignoram ou vivem em um mundo incompatível com as crianças, e aqueles que “mantêm as crianças na sala”, e convidam outros a fazerem o mesmo. Aqueles que decidem trancá-las enquanto tomam decisões, e aqueles que levam em conta sua/nossa natureza. As crianças não podem se isolar. É uma proposta sem sentido para elas e para seus instintos (que são voltados para seu desenvolvimento e fortalecimento). Os indígenas não podem se isolar, os pobres, os sem-teto, os desprivilegiados, os diferentes. Mães solteiras não podem e não devem se isolar ou nos separar e nossas filhos. Devemos ficar juntas.

Realmente me parece que o mundo está se dividindo nessas duas facções: aqueles que acreditam estar protegendo sua vida de um vírus apocalíptico, e aqueles cuja vida está ameaçada pela dissolução e pela proibição das redes de apoio social em que confiavam.

É engraçado quantas vezes me dizem que Jano parece e sente como um indígena. Devo resistir ao meu medo de que o mundo esteja lidando com ele como  uma ameaça, de que suas políticas possam inevitavelmente ter sucesso em traumatizá-lo e desconectá-lo, forçando uma “civilização” corrupta sobre ele. Devo exercer otimismo confiando nele para sobreviver (da melhor maneira possível) a essa redefinição institucional radical da vida e da natureza humana? É a única saída para eu desistir de qualquer desejo de preservar alguma coisa para ele?6

Trago novamente à mente a imagem de você meditando ao lado da pedra Afrodite, desafiando a monumentalização e a museificação da vida, o isolamento de templos antigos e locais com histórias poderosas. Desafiando sua vigilância e controle para que todos nós possamos realizar não apenas turnê e fotografia.  Esses editais de “sem dançar sem licença”, contrariam locais tão poderosos e isolam artefatos antigos de uma comunidade significativa.

Trago à lembrança de você guiando as pessoas através do portal no ano passado em Tropical Burn, e rezo para você, guardiã, Lívia, Mãe, Lilith, Iemanja, Afrodite, Maria. E durante todo o meu isolamento, eu encontrei esperança aguardando para ouvir mais sobre o seu plano: da mesma forma que eu vi você vibrar sobre as forças que tentaram restringir a deusa, e da mesma forma que você continuou encontrando maneiras para conectar e mobilizar em meio a tal material visual de diversidade cultural. Como nós superamos isso?

Email 4: Megalópolis, crianças e pedras

Lívia, 10 de agosto, 8ª lunação de 2020

Amada,

Estou aqui de volta!

Reli ao longo dos últimos meses diversas vezes seu email sem conseguir responder. Tem muita verdade cortante na sua escrita e isso incomoda. Suas palavras são radicais, radicais no sentido de raiz. Você me coloca diante da sombra, diante da inquietante face oculta da lua: Lilith. Remexendo fezes que evito olhar. Tive que deixar suas palavras decantarem para conseguir tirar algum adubo delas – em nome da fertilidade de Afrodite! rsrs.

Além disso, os últimos meses foram uma ventania. Parece que me atravessaram anos de vida. Passei por momentos maravilhosos e libertadores, mas também doloridos e extremamente difíceis. Processos de troca de pele, abandonando velhos padrões mentais e mergulhando em muitas incertezas.

Passar 4 meses confinada num apt na cidade do Rio de Janeiro com 2 crianças super energéticas foi um dos aprendizados mais complexos que já atravessei. Isso tudo só reforça o que, como mãe solteira, já era uma urgência: construir uma vida comunitária menos infantofóbica e mais conectada com os ciclos da natureza.

Eu te escrevo agora das terras altas da Mantiqueira, uma região rural muito preservada e mágica. Nesse momento meus filhos estão correndo na mata inventando infinitas brincadeiras: caçar girinos, carregar lenha, afiar galhos com facas pontudas, fazer o fogo, cavar buracos de argila e contemplar o nada (ou melhor, o tudo). Ainda não existe nenhuma perspectiva das escolas voltarem aqui no Brasil e isso, por mais contraditório que possa parecer está sendo extremamente libertador para eles. O que eles aprendem na roça é real, não é o simulacro da escola que, por mais incrível que seja, está agora enviando apps onde os alunos podem ver os animais do fundo do mar. Um app maravilhoso, super científico, mas que me deixa triste ao pensar: “estão extinguindo esses peixes e agora temos que ficar felizes porque podemos ver eles dentro do nosso celular…”.

Além do mais, estou com preguiça de voltar à rotina pré-pandêmica de constante insegurança e violência: são carros que podem atropelar as crianças, são inúmeras radiações eletrônicas, barulhos e ruídos de máquinas e carros 24 horas; medo de perder uma criança na multidão, grandes, demorados e desconfortáveis deslocamentos dentro da própria cidade, ambientes que não são próprios e acolhedores para crianças, a possibilidade da iminência de um assalto, a sujeira e a insalubridade que se radicaliza com uma pandemia…

Percebe que só consigo tempo para te escrever quando as crianças ficam soltas no mato?

Para mim, o supra-sumo da infantofobia são as megalópoles latinoamericanas (isso porque eu não vivo, como muitos irmãos e irmãs, com tiroteio na porta de casa diariamente).

Se para nós adultos, a linha que divide os espaços públicos dos privados é aviltante e desconfortável, imagina para uma criança?

E se ao longo do longo trajeto diário para o trabalho você precisasse parar e descansar numa rede? Não existem redes embaixo de uma sombra no meio da cidade. E isso se radicaliza se você se desloca sozinha com 2 crianças: no meio do trajeto elas podem precisar fazer cocô e a capacidade delas de se segurar e bloquear as suas necessidades (felizmente) ainda não está treinada como a nossa. 

As megalópoles não são feitas para acolher crianças em seu pleno desenvolvimento. A megalópole é um ecossistema castrador da energia vital de todos os seres que nela habitam. É necessário muita bravura para se manter vivo e pulsante nela. Mas, sem dúvida, manter a saúde dentro dela pode ser uma missão extremamente nobre, política, espiritual e ecológica.

Se pensarmos a doença como o caminho que o organismo encontra para se curar, a pandemia pode ser vista como um chamado. Um sinal que pode ser interpretado como: vivam numa assepsia astronáutica como organismos estranhos (e estrangeiros) dentro do seu próprio planeta ou voltem a se integrar e a escutar os ritmos da natureza. Para mim Gaia (o planeta Terra) pensa, sente e age. Nosso trabalho consistiria em abrir os poros para agir na escuta. E isso as crianças sabem fazer como ninguém, são esponjas perfeitas (para o que há de melhor e que há de o pior…).

A presença de uma criança num ambiente de trabalho é uma ameaça ao produtivismo obsessivo do crescimento econômico infinito. Por isso elas não são bem-vindas nesses ambientes e precisam ficar isoladas da sociedade em escolas (essa pandemia vêm explicitando ainda mais a função da escola como “depósito” de crianças para que nós possamos conseguir ir trabalhar).

É por isso que o Ailton Krenak (líder indígena que você citou) fala “não tirem as crianças da sala”. Eu vi ele falando isso no congresso “Ciranças na Educação” (na Escola Comunitária Cirandas, Paraty, 2018) onde meus filhos e algumas crianças indígenas estavam correndo e fazendo barulho. No meio do congresso, as lideranças indígenas faziam pausas onde todos se levantavam e eles guiavam uma brincadeira corporal desafiadora e divertida para todas as idades. Isso quebrava com o ritmo de um congresso “normal” e justamente nos deixava muito mais despertos intelectualmente para absorver os ensinamentos indígenas.

O que eu acredito que ele queria dizer com “não tirem as crianças da sala” é que a gente precisa ser resiliente, abraçar a adversidade e o fluxo natural da vida. Os adultos precisam brincar, brincadeira é coisa séria. E, ao mesmo tempo, as crianças precisam participar das atividades dos adultos, aprender a manejar a vida com eles e ajudar a encontrar respostas criativas para os conflitos da comunidade. Antigamente era muito comum as crianças aprenderem os ofícios dos parentes. Isso não necessariamente tem a ver com trabalho infantil, pode ter a ver com uma integração saudável das crianças na vida da comunidade. As sociedades “dominadoras” que transformaram isso em exploração infantil, pretendendo que as crianças produzam lucro para o patrão.

Sobre o isolamento forçado e as restrições rígidas, elas me parecem ser necessárias num sistema que não está equilibrado. E esse é o caso das grandes cidades. O Brasil tem um governo que é contra o isolamento e chegamos agora a 100.000 mortos!! [Agora em março 2021 quase 300,000]. Os números se tornaram nomes de pessoas conhecidas. Estamos vivendo inúmeras tragédias sucessivas no nosso país.

Enquanto continuarmos desequilibrando os biomas, novos vírus continuarão se espalhando. É  contraditório, mas uma medida mais rígida de isolamento e hiper higienização poderia ter evitado tanto sofrimento. Claro que a médio e longo prazo isso não vai evitar novas ondas pandêmicas.

Por outro lado, é verdade que o isolamento tem aumentado os casos de violência doméstica, feminicídio, depressão e até mesmo suicídio. Mas todos esses sintomas são causados pelos mesmos motivos que provocaram uma pandemia mundial. E isso precisa ser encarado de frente: estamos asfixiando o fluxo da energia vital.

E o isolamento aumenta também o abismo entre quem tem o privilégio de fazer um isolamento e quem não tem. Sobre quais vidas valem mais do que as outras. A pandemia está acelerando e exacerbando o que tínhamos de pior. Mas as ações de restauração planetária também estão se fortalecendo.

Tudo aquilo que eu achava que deveria ser feito no futuro, eu estou percebendo que tenho que fazer agora. É por isso que demorei quase 3 meses para te responder esse email. Estou juntando tudo o que desenvolvi nos últimos 15 anos numa única plataforma. Estou pulsando meu coração com a terra e sonhando com seu fluxo na construção da Bolsa de Valores Éticos da VAV (Vendo Ações Virtuosas). Estamos construindo o site (www.vendoacoesvirtuosas.art) e uma plataforma econômica complementar. Quero marcar um novo encontro com a rede do Ixodos para apresentar o projeto, escutar sugestões e articular novas ações.

Sim, “eles” estão catalogando, museificando, queimando e encaixotando os nossos objetos sagrados e ancestrais com o intuito de controlar a nossa pulsão vital mágica. Mas “eles” não entendem que a pulsão mágica não pode ser confinada num objeto, porque habita nossos corpos.

Quando falo “eles” me questiono profundamente se esse “eles” também não habita dentro de “nós”, se não temos um opressor interno, um auto-sabotador que oprime nossa própria energia vital.

“Eles” estão matando nossos pajés de covid… é uma dor hedionda!! Mas eu tenho certeza que a cura dos pajés corre pelas nossas veias, continuam nas raízes das árvores e se espalham como antenas parabólicas pelas rochas monumentais da praia de Afrodite (Pathos), do Pão de Açúcar e da Pedra do Picu (pedra sagrada aqui da Serra da Mantiqueira que agora vejo da minha janela).

Te amo!

Estamos juntas. Saudades imensas de vocês…

E-mail 5: A verdade e o futuro / guerreiros para a imunidade afetiva

Chrystalleni, 15 de agosto de 2020, 8ª Lunação de 2020

Meu selvagem está dormindo e minha tarefa é criar uma conclusão para esta parte da nossa troca, e terminar de arrumar nosso material visual para a Revista MESA. Faço isso com uma alegria que é tripla: tomo sua bênção por precipitar nossas transformações através do re-investimento em afeto e da moeda de afeto da VAV. Mal posso esperar para compartilhar essa conversa com Ixodos e uma incrível lista de discussão que acabei de encontrar, onde mulheres do movimento de liberdade em software coletam vozes de mulheres poderosas, vozes que ecoam nossas próprias preocupações e prioridades.7 E eu não consigo parar de sorrir do estranho contraste das duas fotos (a seguir) de nossas prisões pandêmicas em contraste com as imagens de capa no topo deste artigo: imagens de nossas aventuras selvagens na natureza em todos os continentes, você incorporando as nossas faces igualmente obscuras e gloriosas protetoras mãe-serpente na rocha de Afrodite, e Janus dormindo alegremente em uma cachoeira em TerraUNA. Vejo a resposta à minha pergunta agora: agora que sei que nossa verdade está lá em cima (veja imagem de capa), não acho mais tão intolerável que às vezes possamos retornar às guerreiras, guardiães, que ilustram as fotos abaixo:

Os desenhos de parede de Janus contêm algumas das questões que você traz à tona em relação à educação: alguns deles foram feitos com ansiedade e certamente por ele querer ser interrompido por mim, suas linhas inevitavelmente refletiram minha própria desconexão ansiosa enquanto fazia outra coisa, provavelmente sendo sugada por uma tela tentando trabalhar para prover, ou entender o que estava acontecendo ao nosso redor. Enquanto outros desenhos foram feitos com prazer e com meu incentivo-participação para adicionar mais cor ao nosso entorno, e à medida que buscávamos atividades sobre as quais nos conectávamos e aprendíamos um com o outro, compartilhamos significados e limites, e transcendemos as limitações do nosso ambiente imediato. Assim como você, temos procurado comunidades em reservas naturais, Encontros de Arco-Íris, e eu tenho procurado por conexões no movimento educacional Steiner-Waldorf. Não há mais ilusão: a floresta é a escola real, e não aquela que está empurrando recomendações de aplicativos de vídeo e fonte fechada sobre dispositivos não gratuitos e tecnologias exploratórias.

Eu valorizo muito essa troca. Tem sido um caminho para minhas preocupações políticas mais urgentes e complicadas: antes da interrupção, estávamos à beira de perceber / articular algo novo e impactante por meio dos Ixodos, e assim que isso pareceu realizável, as apostas aumentaram surpreendentemente para a urgência de articular nosso Chamado / Manifesto agora, mesmo com a areia movediça, com nossos mundos mudando sob nossos pés.

O conceito Ixodos é agora totalmente claro: uma rede e um conjunto de estratégias para saídas suaves de dependências de estruturas infantofóbicas. E o próximo passo é claro: estabelecer portos e ritmos seguros fora da cidade, continuar consolidando a rede Ixodos, a moeda Afeto da VAV e o sistema circulatório VAV em software livre, e irradiar nosso chamado para sair suavemente e conectar significativamente, de forma ampla, e ao melhor de nossos melhores instintos e afetos agora totalmente ativados.

Com amor e imunidade afetiva,

Ixodos

https://reaphrodite.org/ixodos

Email 6: Floresta escola

Lívia Moura, 10 de janeiro de 2021, 1ª lunação de 2021

Amada,

Estive relendo nossa troca de emails e fico chocada (positivamente) em perceber o quanto esse registro foi fiel e coerente com todo o processo do ano que passou. Para mim, 2020 precisa ser visto como um ano de reset, para recomeçarmos devagarzinho TUDO. É extremamente complexo porque ainda tem muitos castelos para ruir em cima de nós, enquanto estamos plantando as novas sementinhas. Vamos agradecer e honrar o que temos de bom na sociedade humana contemporânea, mas reformar sem pudor tudo que está doentio. Esse caos todo é a deixa que a Terra nos concedeu para mudar o rumo da humanidade. Após quase um ano inteiro de incertezas, auto- questionamentos e inquietações decidi vir morar em Itamonte com meus filhos num bairro rural, onde terei espaço para um atelier e várias vacas em torno rsrs. Meus filhos estão ótimos, felizes como nunca. Foi um ano de aprendizado intenso e muita sabedoria transmitida pela natureza. A floresta educa, ela é uma escola. É como se eu estivesse encarnando o que o Guilherme Vergara8 vem dizendo nos últimos anos com a ideia de uma “Escola de Arte devir floresta”. Além disso o software da moeda Afeto que irá circular dentro da Bolsa de Valores Éticos ficou pronto: www.bancodoafeto.art . Vamos começar a promover permutas multilaterais e multiespecíficas. Chamamos os usuários da moeda de “acionistas virtuosos”, pois esse banco com sua lista de anúncios é um modo de conectar e inspirar pessoas que estão pensando e agindo pela regeneração planetária e a restauração do nosso futuro. Vamos pensar em como levar e ampliar nossos intercâmbios do Ixodos dentro dessa plataforma econômica complementar?

Quero compartilhar com você um resumão das últimas reflexões sobre esse sistema econômico que estamos criando:

A economia do afeto já é a economia que sustenta a vida planetária. Sem ela nenhum bebê sobreviveria. Tudo o que buscamos na vida é amar e sermos amados. Até mesmo nos crimes mais hediondos e no acúmulo excessivo de capital, no fundo estamos criando uma estratégia (trágica e inapropriada) para obter amor. Economia é um coração que pulsa dinheiro e deveria distribuí-lo com amor incondicional. Eu acredito que todas as emoções partem do amor ou da falta dele. Portanto, crise econômica corresponderia à má circulação do sangue e à má gestão das nossas emoções. É intrigante que o covid justamente desacelera nossa circulação sanguínea juntamente num momento em que a economia acelera o ritmo de nossas vidas. Precisamos aprender a escutar e seguir o pulsar do coração da Terra, gerindo nossas emoções, nossa energia vital, de modo que ela não fique bloqueada, coagulada ou monopolizada nas mãos de uma pequena parcela da população.

Se inscreve no Banco do Afeto, gostaria muito que você oferecesse nele uma aula de “Tecnologia subversiva: como usar a tecnologia de maneira sábia e política, sem nos afogarmos nas estratégias de controle das nossas mentes e emoções”.

Quero agradecer o convite seu para eu dar uma aula na sua disciplina de artes na Universidade de Nicósia e quero fazer o mesmo convite à você. Esse semestre irei dar uma disciplina na graduação de artes da Universidade Federal Fluminense por conta do estágio de docência do doutorado que acabei de ingressar com o Guilherme Vergara em Estudos Contemporâneos das Artes.8 Vamos conectar nossos estudantes através do Banco do Afeto?

Te aguardo!

E vamos nos manter em contato, essa rede político-afetiva é fundamental para manter a sanidade nesse momento. É isso que vai segurar a gente até a tormenta passar. Aliás, serão as redes de solidariedade que farão a tormenta passar.

Você, a Jessica Gogan, o Guilherme Vergara, a Evanthia Tselika e a Carol Cortes fazem parte da minha família universal.

Te desejo muita coragem, entusiasmo, leveza, alegria e espírito infantil para enfrentar tudo o que precisa ser reformado nesse mundo louco que a gente vive.

E amor, claro, sem ele nada faz sentido.

Bjs,

Lívia

Leia o artigo na integra com fotos, legendas e notas em: REVISTA MESA

BIOGRAFIAS:

Chrystalleni Loizidou
Buscou significado na pesquisa acadêmica sobre a transformação do conflito em relação à história da arte e da mídia, e esforços para recuperar os bens comuns (PhD Cultural Studies com o London Consortium). Trabalhou com uma série de universidades, centros de arte e programas financiados internacionalmente com foco crescente em tecnologia gratuita e de código aberto, até que uma criança reativou minha conexão com um círculo de educadores artísticos dedicados no Brasil e me ajudou a ver o que os Situacionistas. significava com sua rejeição do trabalho alienado. Juntos, começamos a mapear as iniciativas de arte-educação mais corajosas e significativas em todo o mundo, e temos nos concentrado em manter um espaço e uma comunidade para brincar gratuitamente, em direção ao que Silvia Federici descreve como um reencantamento.

neeii.info

 

Lívia Moura

(Rio de Janeiro, 1986), mulher-polvo e mãe de 2 criOnças, é uma artista engajada em projetos sociais de educação emocional e economia solidária. Criou em 2013 a plataforma Vendo Ações Virtuosas, que se tornou o tema do seu mestrado (2016-2018) e doutorado (2020-...) em Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF. É autora do material didático Raiz do Afeto voltado para competências socioemocionais para o ensino fundamental I (Ed. Raiz Educação). Mora no interior de Minas, onde produz pigmentos naturais para suas pinturas e desenvolve projetos de resgate e potencialização da cultura local. Suas pinturas participam de feiras arte e importantes coleções de arte.

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Produção e Curadoria: @priscilacostaoliveira

Apresentação: Priscila Costa Oliveira e Maria Flor

Convidada: Chrystalleni Loizidou e Lívia Moura

Vinheta: @vineschmitt

Musicas: Find Your Way Beat e Bella Bella Beat de Nana Kwabena

 

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