
No episódio #014
Alice Porto lê Um Útero é do Tamanho de Um Punho de Angélica Freitas
No episódio nº 014 Alice Porto lê Um Utero é do Tamanho de Um Punho de Angélica Freitas
Alice Porto (Pelotas/RS, 1985) é artista, ativista e pesquisadora, doutoranda em Poéticas Visuais pela UFRGS. Trabalha principalmente com desenho, gravura e publicações independentes, dentre elas: Ser Um Omi Feministo (2016), Xoxotas de Pelotas (2016), Quase um Quadrado (2017), PIRANHAZINE (2018), Gracyzine (2018). Participa também do projeto poético-sonoro Banda de Garotas Instantâneas.
UMA MULHER LIMPA
porque uma mulher boa
é uma mulher limpa
e se ela é uma mulher limpa
ela é uma mulher boa
há milhões, milhões de anos
pôs-se sobre duas patas
a mulher era braba e suja
braba e suja e ladrava
porque uma mulher braba
não é uma mulher boa
e uma mulher boa
é uma mulher limpa
há milhões, milhões de anos
pôs-se sobre duas patas
não ladra mais, é mansa
é mansa e boa e limpa
uma mulher muito feia
era extremamente limpa
e tinha uma irmã menos feia
que era mais ou menos limpa
e ainda uma prima
incrivelmente bonita
que mantinha tão somente
as partes essenciais limpas
que eram o cabelo e o sexo
mantinha o cabelo e o sexo
extremamente limpos
com um xampu feito no texas
por mexicanos aburridos
mas a heroína deste poema
era uma mulher muito feia
extremamente limpa
que levou por muitos anos
uma vida sem eventos
uma mulher sóbria
é uma mulher limpa
uma mulher ébria
é uma mulher suja
dos animais deste mundo
com unhas ou sem unhas
é da mulher ébria e suja
que tudo se aproveita
as orelhas o focinho
a barriga os joelho
s até o rabo em parafuso
os mindinhos os artelhos
era uma vez uma mulher
e ela queria falar de gênero
era uma vez outra mulher
e ela queria falar de coletivos
e outra mulher ainda
especialista em declinações
a união faz a força
então as três se juntaram
e fundaram o grupo de estudos
celso pedro luf
VER.SAR é um podcast com artistas convidadas a compartilhar leituras de textos sobre práticas artísticas, maternidades e feminismos. Este Podcast é uma plataforma de comunicação colaborativa que reúne mulheres artistas e seus referenciais textuais, a partir do exercício da leitura e busca criar um arquivo de consulta e compartilhamento gratuito de conteúdo relacionado às questões estruturais e conceituais implicadas em ser mulher na contemporaneidade. As artistas convidadas são mulheres que investigam e discutem os conflitos políticos da vida doméstica e pública produzindo pensamento crítico em nosso contexto e propondo mudanças significativas no mundo da arte.
É preciso Ouvir as mulheres!
Apresentação: Priscila Costa Oliveira e Maria Flor
Convidada: Alice Porto
06 de dezembro 2018